Ary Náutica

Dicas de manuntenção

O uso da tinta anti-incrustante


O arsênio está por aí há bastante tempo. Mais precisamente, dois mil anos. Costumava ser, já naquela época, um dos componentes utilizados nos cascos de navios para combater o ataque de cracas, mexilhões e algas. Por volta de 1625, o componente, então combinado com cobre e goma em pó, acabou patenteado como o primeiro agente antiincrustante de que se tem conhecimento.

O objetivo era claro: lutar contra a presença desses organismos incrustantes que, além de prejudicar a navegação – entre outros problemas, podem acarretar no aumento significativo de combustível -, ainda afetam a fauna marinha, transportando espécies exóticas que, levadas para outros lugares, muitas vezes ameaçam a sobrevivência das espécies nativas e colocam sob risco a conservação de ecossistemas brasileiros.

Esse é um tema que já mereceu a atenção de nossas autoridades. Embora muita gente não saiba, desde 1 de novembro de 2007 vigora no País uma legislação que regula a aplicação de tintas antiincrustantes. Naquela altura, em consonância com a convenção internacional de controle desses sistemas, passou a ser exigido que toda e qualquer embarcação – atenção especial para os veleiros, de maior uso – passasse a carregar a bordo o certificado de conformidade, emitido e endossado pelo próprio proprietário.

Em caso de descumprimento da norma, as multas a serem definidas pelos Agentes marítimos ou Diretor de Portos e Costas poderiam variar entre R$ 1 mil e R$ 50 mil – valor a ser arcado pelo designado responsável da embarcação.

A aplicação dessa norma, que também atinge navios estrangeiros que navegam pelo Brasil, vem da necessidade de se regulamentar o uso dessa tinta, mais popularmente conhecida como venenosa, que, embora atue no enfrentamento de organismos indesejados, já chegou a ter o seu uso proibido. Altamente tóxica – além de arsênio, é geralmente composta por cobre -, ela pode contaminar os seres humanos pelo consumo direto de mexilhões ou por meio da cadeia alimentar – entenda-se, peixes que se alimentem desses mexilhões.

Calcular a quantidade exata de tinta a ser utilizada ao longo do ano é uma boa maneira de se evitar desperdícios e, ainda, economizar dinheiro – esse produto costuma sair bem caro para o bolso. Há duas contas para se chegar ao número correto. Se for lancha, a soma da boca acrescida do calado e multiplicada pelo comprimento de linha d’água resultará na área em m². No caso dos veleiros, o cálculo é um pouco mais complexo – a soma da boca mais o calado multiplicado primeiro por 0,75 e em seguida pelo comprimento da linha d’água.

Passa por aí a receita para se conservar a embarcação, mantendo-a dentro do que pedem as autoridades, e ainda expor a sua preocupação para com a vida marinha e quem tira seu sustento dela.